Por Carlos Nobre
- Avanços foram insuficientes; expectativa era que conferência transitasse das negociações para a implementação
- Emissões globais precisam começar a cair já em 2026, não na ‘próxima década
Climatologista, é copresidente do Painel Científico para a Amazônia (SPA) e membro da Academia Brasileira de Ciências
A COP30 chegou anunciando-se como a “COP da verdade” —a conferência da transição das negociações para a implementação. A expectativa era clara: que os países reconhecessem a urgência de reduzir rapidamente as emissões para manter 1,5°C de aquecimento ao alcance, reafirmando que financiamento, capacitação e transferência de tecnologia são condições essenciais para isso.
Esperava-se também que os governos se comprometessem a acelerar a implementação das reduções das emissões acordadas pelos países (as NDCs) nesta década crítica, alinhando-as à ciência e ao princípio das responsabilidades comuns, porém diferenciadas.
De fato, a COP30 trouxe um ambiente de discussões ricas. Pela primeira vez na sua história foi criado um Pavilhão de Ciências Planetárias, que mostrou, em uma série de painéis científicos de alto nível, a profundidade dos riscos que o planeta enfrenta. Um progresso desta edição foi que medidas de adaptação foram acordadas e avançaram os debates sobre financiamento climático para conservação das florestas em pé, com promessas de apoio às populações ancestrais que há milhares de anos protegem esses ecossistemas.
Mas a pergunta central permanece: isso é suficiente? A resposta, sustentada pela ciência, é não.
O planeta enfrenta uma emergência climática que já se consolidou como uma das maiores ameaças à estabilidade ecológica e à segurança humana no século 21. O ano de 2024 foi o mais quente, atingindo 1,55°C acima do período pré-industrial (1850-1900), 2025 será o segundo ano mais quente e as emissões aumentaram 1,1% em relação ao ano anterior, a maior emissão da história.
A comunidade científica alerta há mais de duas décadas sobre os perigos de um modelo econômico baseado em combustíveis fósseis e na destruição das florestas —riscos confirmados pelos relatórios do IPCC desde 1990.
E o futuro próximo é ainda mais preocupante. Um mundo que ultrapassa 1,5°C aumenta os riscos de pontos de não retorno em sistemas críticos —entre eles, a amazônia e os recifes de corais tropicais.
É por isso que a ciência é contundente: as emissões globais precisam começar a cair já em 2026. Não em 2030. Não “na próxima década”.
Reduzir emissões de combustíveis fósseis em pelo menos 5% ao ano (2,5 bilhões de CO2e) é agora uma exigência física, não uma escolha política. O orçamento de carbono remanescente está praticamente esgotado: restam cerca de 130 bilhões de toneladas de dióxido de carbono para ter uma chance razoável de limitar o aquecimento global a 1,5°C, apenas três a quatro anos no ritmo atual.
Para evitar o colapso climático, o mundo precisa estar próximo de zero emissão fóssil até 2040 e, no máximo, até 2045. Isso exige: nenhum novo investimento em combustíveis fósseis; eliminação imediata dos subsídios ao setor; um plano global para expandir energias renováveis de forma justa e equitativa; financiamento robusto de países ricos para países em desenvolvimento.
Há, ainda, um ponto crucial: só podemos planejar uma transição ordenada porque assumimos que as florestas permanecerão como grandes sumidouros de carbono. Por isso, é igualmente urgente um mapa de caminho (roadmap) —não apenas workshops ou reuniões ministeriais— para acabar com o desmatamento.
A COP30, embora não tenha apresentado mapas de caminho para eliminar combustíveis fósseis e para zerar o desmatamento, avançou em alguns temas essenciais, como adaptação, e o Brasil exerceu liderança importante.
A COP30 foi um sucesso? Ainda não, mas o Brasil continua liderando a conferência por mais 11 meses e seu presidente, André Corrêa do Lago, prometeu continuar a lutar muito por uma acelerada redução das emissões.
A COP31 pode vir a ser a mais importante da história se o que foi discutido em Belém se transformar, urgentemente, em ação concreta (Folha)






