Por José Roberto Mendonça de Barros
Fato de Trump ter marcado a data de uma viagem para Xangai sem que Xi tenha feito o mesmo no sentido inverso mostra o quanto os EUA precisam desse acordo.
O maior evento da semana que passou foi a negociação, seguida de um acordo, empreendida pelos presidentes Donald Trump e Xi Jinping. Antes de tudo, isso significou a aceitação definitiva de que a China é um líder do mesmo porte dos EUA.
Essa reunião também significa apenas uma parada tática na disputa entre os países e não qualquer revisão estratégica de suas visões e políticas, como foi observado pelo Prof. Zhao Minghao, ao Financial Times. A disputa pela hegemonia em suas áreas de influência e na arena global vai continuar a todo vapor.
O controle estrito da oferta de minerais de terras raras pela China obrigou os Estados Unidos a negociarem, pela terceira vez, desde o dia 2 de abril, quando a mãe de todos os tarifaços foi lançada por Trump. Embora não tenha sido central, a completa paralisia nas compras da soja americana também ajudou muito, uma vez que a bancada ruralista de lá tem a mesma força que a daqui.
O fato de que Trump tenha marcado a data de uma viagem para Xangai sem que o presidente Xi tenha feito o mesmo no sentido inverso revela o quanto Trump precisa manter o acordo. E denota também certa vantagem do Império do Meio na disputa comercial, reforçada pela redução de sua dependência direta do mercado americano. Correntemente, os americanos representam apenas 10% das vendas chinesas (em setembro). E a China elevou suas exportações totais para o mundo.
No acordo a que se chegou, a China se comprometeu a comprar 12 milhões de toneladas de soja ainda neste ano e 25 milhões de toneladas de 2026 a 2028. Observe-se que, entre 2021 e 2022, os americanos exportaram um pouco mais de 30 milhões por ano e, em 2023-2024, uma média de 23 milhões. Nesses últimos anos, o Brasil vendeu quase 80 milhões de toneladas anuais.
Em outras palavras, os EUA voltarão apenas no ano que vem à posição recente, enquanto o Brasil mantém a vantagem que foi sendo consolidada desde o primeiro governo Trump.
A ameaça à nossa posição que muitos viam simplesmente não se materializou.
Como apontou Ian Bremmer, da Eurásia, é preciso considerar que a forma bruta e volátil com que Trump conduz sua política comercial torna os EUA um parceiro no qual não se pode confiar. Assim, estrategicamente, todos os países tentarão evitar dele depender em importações essenciais, como é o caso dos alimentos.
Como já salientamos mais de uma vez, uma das grandes vantagens de nosso país é a de ser um fornecedor confiável, além de competitivo em todas as áreas de recursos naturais.
Em tempo: O Congresso aprovou uma reforma do setor elétrico com vergonhosos subsídios (José Roberto Mendonça de Barros, economista é sócio da MB Associados; Estadão)
											




