Avaliação é do analista de insumos do banco, Bruno Fonseca, que apresentou as projeções para o setor durante evento.
Mesmo diante da expectativa de um 2026 ainda marcado por margens apertadas e crédito restrito no campo, o produtor rural brasileiro tem se adiantado na compra de insumos, especialmente fertilizantes. A avaliação é do analista de insumos do Rabobank, Bruno Fonseca, que apresentou nesta quarta-feira (29/10) as projeções do banco holandês para o setor durante o evento de perspectivas de mercado.
O produtor brasileiro tem se antecipado na compra de fertilizantes para a safra 2026/27, com destaque para o Estado de Mato Grosso, segundo o analista. “O mercado já está rodando bastante, e há produtores que já fecharam praticamente toda a necessidade de adubo para o próximo ciclo”, disse Fonseca.
Tradicionalmente, as negociações de fertilizantes para o ciclo seguinte se intensificam entre novembro e dezembro, mas neste ano as operações começaram ainda em outubro. Segundo o analista, a antecipação é motivada por fatores como a busca por proteção cambial diante das incertezas do câmbio em um ano eleitoral, fixando as compras no real, além da tentativa de garantir volumes e preços num momento de maior previsibilidade.
Entre os produtos mais procurados está o cloreto de potássio (KCl), que se mantém em um nível de preço considerado “historicamente bom”, levemente abaixo da média dos últimos anos, favorecendo o travamento antecipado das compras. O produtor tem aproveitado a relação de troca futura, que, apesar dos preços mais altos, ainda mostra-se atrativa, explicou Fonseca.
Para o analista, 2026 será um ano de transição para o setor. A expectativa é de que as margens continuem apertadas, mas com possibilidade de melhora gradual a partir do segundo semestre de 2027, conforme o produtor consiga ajustar custos e consolidar estratégias de eficiência.
No caso dos defensivos agrícolas, no entanto, o analista espera que o produtor adote estratégias como a redução no uso ou ajustes nas aplicações para cortar custos.
Volume recorde
De acordo com as projeções do Rabobank, as entregas de fertilizantes ao produtor brasileiro devem alcançar 46,6 milhões de toneladas em 2025, o que representaria um novo recorde. Para 2026, a estimativa é de 47 milhões de toneladas.
Fonseca observou que o resultado é “até contraintuitivo”, considerando as dificuldades de rentabilidade enfrentadas pelo setor. “O produtor brasileiro continua investindo nas lavouras e vai continuar plantando, mas houve um pouco de substituição de alguns produtos”, em uma tentativa de otimizar custos, substituindo produtos mais caros por alternativas com melhor relação custo-benefício”, explicou.
Entre os nutrientes, o fósforo segue sendo o principal fator de pressão nos custos de adubação. O preço internacional do insumo, segundo o Rabobank, subiu de US$ 630 por tonelada em fevereiro para cerca de US$ 760 em julho deste ano, mas recentemente recuou para a faixa dos US$ 660.
Fonseca avalia, no entanto, que a queda deve ser temporária. “O mercado global de fósforo permanece com um balanço de oferta e demanda bastante apertado, e essa situação deve continuar pelos próximos 18 a 24 meses”, disse.
Com o preço elevado, o Brasil tem alterado o perfil de suas importações: as compras de MAP (fosfato monoamônico) caíram, enquanto aumentaram as de superfosfato simples (SSP) e superfosfato triplo (TSP). “Quando olhamos o volume total de fósforo equivalente importado, ele deve permanecer em nível semelhante ao do ano anterior. Mas, como esses produtos têm menor concentração de fósforo por tonelada, isso contribui para o aumento do volume total entregue de fertilizantes no país”, explicou o analista.
No segmento dos fertilizantes nitrogenados, Fonseca destacou a volatilidade dos preços e o papel determinante da Índia nas oscilações do mercado global. “A cada novo tender lançado pela Índia, há uma forte reação de preços. Quando o país sai do mercado, os valores tendem a recuar”, observou.
Câmbio e competitividade
Ainda assim, a leitura do Rabobank é de que os preços internacionais dos fertilizantes devem se manter em patamar mais alto em 2026, o que tende a limitar o consumo mundial, mas com impacto menor no Brasil, devido a fatores cambiais e de competitividade das commodities agrícolas.
De acordo com o Rabobank, enquanto o índice global de poder de compra de fertilizantes deve atingir níveis baixos em 2026, resultando em queda do consumo mundial, o Brasil deve se destacar em sentido oposto.
“O câmbio e o preço das commodities agrícolas atuam a favor do produtor brasileiro, melhorando a relação de troca em comparação com outros países. Isso deve permitir que o Brasil mantenha o consumo elevado de fertilizantes em 2026, enquanto o resto do mundo tende a reduzir”, afirmou Fonseca (Globo Rural)




