- Mesmo com tarifas de Trump, vendas externas da carne bovina brasileira caminham para um recorde
- Café, outro produto incluído na lista do tarifaço, também ficou mais caro nos EUA
A “excelente química” entre Donald Trump e Lula, anunciada pelo presidente dos Estados Unidos, pode ter algo a mais do que um ter gostado do outro, como afirmou o americano.
As tarifas impostas a produtos do agronegócio foram ruins para os exportadores brasileiros, mas os Estados Unidos continuam importando boa parte do volume que compravam, e pagando bem mais caro.
Já o Brasil está encontrando novos caminhos para seus produtos, como mostram os números das exportações brasileiras dos 15 primeiros dias úteis de setembro, um mês após a entrada em vigor da tarifa de 50%.
Enquanto o Brasil continua elevando suas exportações para outros mercados, como ocorre com a carne bovina, os americanos sentem o efeito da inflação no bolso. Dentro dos Estados Unidos, a situação não é tão tranquila.
Quando falou sobre a inflação na ONU, Trump destacou a queda do preço da gasolina, mas omitiu que a carne bovina teve aumento de 7,3% em agosto, em relação ao mesmo mês de 2024, segundo números do U.S. Bureau of Labor Statistics. Alguns cortes específicos, como a carne para bife, subiram 3,1% no mês, acumulando 17% em 12 meses.
O mesmo ocorre com o café, outro produto incluído na lista do tarifaço. Só em agosto, os americanos pagaram 3,1% a mais pela bebida, em relação a julho. No acumulado de 12 meses, a alta é de 21%.
A imposição de tarifas de Trump recaiu sobre uma lista grande de produtos brasileiros, que têm o mercado americano como um dos mais importantes para o país. Café, carne bovina, fruta, pescado, mel e sebo estão entre eles. Em alguns casos, há uma dependência mútua grande entre os dois mercados, que chega a 90%.
Os números da Secex (Secretaria de Comércio Exterior) desta semana indicam que as vendas externas totais de carne bovina, mesmo com a imposição de tarifas dos Estados Unidos, até então o segundo principal mercado para a proteína brasileira, caminham para um recorde.
A média diária de vendas dos 15 dias úteis de setembro somam 13,98 mil toneladas de carne fresca, resfriada ou congelada, acima das 12,79 mil de agosto, quando entraram em vigência as tarifas mais pesadas sobre as exportações brasileiras. Nesse ritmo, as exportações de carne “in natura” vão superar as 300 mil toneladas neste mês.
As vendas de café, produto que também tem uma base muito forte nos Estados Unidos, receberam um impacto maior, mas se recuperam, em relação a agosto. Segundo a Secex, o setor está colocando 9.228 toneladas de café em grãos no mercado mundial por dia útil neste mês, acima das 6.802 de agosto.
Nesse ritmo, as vendas totais externas de setembro deverão superar as 200 mil toneladas, mas ainda serão inferiores às 243 mil de igual mês de 2024, segundo a Secex. Em julho, os brasileiros haviam exportado 20,3 mil toneladas de café em grão para os Estados Unidos, volume que caiu para 18,1 mil em agosto. O Brasil está terminando a colheita de 2025, e a produção deverá atingir 55,2 milhões de sacas, segundo a Conab (Companhia Nacional de Abastecimento).
As exportações totais de mel, produto que tem grande dependência do mercado americano, aumentaram neste mês, subindo para 170 toneladas por dia útil, acima das 159 de agosto. Mesmo com o aumento de tarifa, as vendas externas continuaram elevadas para os Estados Unidos. Em agosto, o Brasil colocou 2.940 toneladas naquele mercado, próximo do volume de 3.081 de julho. A partir deste mês, exportadores brasileiros e importadores americanos deverão discutir novos contratos para a safra que se inicia no Brasil.
As vendas totais de peixes se mantiveram estáveis até agosto, mas o volume que foi enviado para os Estados Unidos caiu para 1.953 toneladas no mês passado, abaixo das 2.848 de julho. As exportações do item classificado pela Secex como de “preparação alimentícia” recuaram de 5.894 para 4.375 no mesmo período.
Além da carne bovina, os Estados Unidos se tornaram importantes também para o mercado de sebo do Brasil. Pelo menos 98% do produto nacional exportado tem como destino o mercado americano. Os dados da Secex indicam que o volume comercializado entre os dois mercados teve aumento, mesmo com a entrada em vigência da tarifa de 50%. Em agosto, o Brasil exportou 64 mil toneladas para os Estados Unidos, volume superior ao de julho, que foi de 56 mil.
A venda total de manga de agosto repete o volume do mesmo mês de 2024, ficando em 19,7 mil toneladas. Os Estados Unidos, segundo principal importador brasileiro, compraram 2.918 toneladas, o maior volume para o mês desde 2021 (Folha)