Cenário ocorreu devido à combinação de preços menores, custos elevados e recuos de produtividade.
Levantamento da Serasa Experian mostra que a margem de lucro dos produtores de soja caiu pela metade nos últimos quatro anos. De acordo com a empresa, esse cenário se deu pela combinação de preços menores, custos ainda elevados e recuos de produtividade.
Para chegar à conclusão, a Serasa utilizou dados de receitas e custos (insumos, defensivos, arrendamentos, mão de obra etc.) apurados nos principais municípios brasileiros nos últimos cinco anos e que foram associados aos mapas de produtividade produzidos para o mesmo período nestas regiões.
A partir disso foram criadas quatro categorias de análise (abaixo) para entender o impacto nas margens: produtores com terras próprias e sem necessidade de custeio; produtores com terras próprias e 100% de custeio financiado; produtores arrendatários e sem necessidade de custeio; e produtores arrendatários e 100% de custeio financiado.
De acordo com a Serasa, o ciclo 2021/22 marcou o auge de rentabilidade para o produtor, com receita média de R$ 8.465,03 por hectare, impulsionada pelo preço da saca acima de R$ 150 e, em alguns casos, ultrapassando R$ 175. Porém, a produtividade caiu 7% devido a condições climáticas adversas. Nos anos seguintes, a realidade mudou: em 2023/24, a receita por hectare caiu 15% em relação ao pico de R$ 8.465,03 registrado em 2021/22, chegando a R$ 6.922,12, acompanhada de queda de 3% na produtividade.
Os custos também pesaram para o sojicultor nesse período. Fertilizantes e defensivos subiram fortemente entre 2021 e 2022, pressionados pela pandemia e pela guerra na Ucrânia. O custo por hectare atingiu o pico em 2022/23: R$ 5.713,62 para produtores com terras próprias e R$ 7.505,49 para arrendatários. Mesmo com uma leve queda posterior, os patamares seguem elevados.
Esse descompasso impactou diretamente a rentabilidade. No caso do produtor proprietário, a margem média que era de 48,6% em 2020/21 caiu para 29,6% em 2022/23, e recuperou um pouco para 35,7% em 2024/25.
Para o arrendatário, a situação foi mais crítica: de 27,2% em 2020/21 para apenas 7,3% em 2023/24, com recuperação parcial para 14,8% em 2024/25. Cenários com financiamento total dos custos no mercado de crédito ampliam ainda mais essa pressão, reduzindo as margens a níveis mínimos.
“O agronegócio brasileiro é referência mundial em produtividade, mas para manter a competitividade global, é essencial que a governança de risco acompanhe esse nível de excelência. Hoje, já temos recursos de análise muito mais precisos e acessíveis do que há poucos anos, o que permite apoiar o produtor em momentos de maior volatilidade e proteger o sistema de crédito como um todo”, disse, em nota, Marcelo Pimenta, head de Agro da Serasa Experian.
Segundo avaliação da Serasa, a sustentabilidade financeira do agronegócio depende cada vez mais de governança de crédito e análise de dados de alta precisão. Hoje, é possível combinar diferentes dimensões de risco – histórico de pagamentos, capacidade produtiva, resiliência climática, compliance ESG e projeções de preços – para antecipar riscos e renegociar contratos quando necessário.
“Produzir segue sendo essencial, mas a disciplina em gerir será o fator decisivo para garantir sustentabilidade e competitividade no futuro do agronegócio brasileiro”, finaliza Marcelo Pimenta (Globo Rural)