Alessandra Alves de Souza, pesquisadora do Instituto Agronômico (IAC), é a brasileira que está entre quatro mulheres agraciadas com o Prêmio Ingenias LATAM 2025, uma iniciativa do projeto AL-INVEST Verde DPI da União Europeia, implementado pelo Instituto da Propriedade Intelectual da União Europeia, o EUIPO. Este prêmio para mulheres inventoras na América Latina veio pela pesquisa liderada pela cientista do IAC, que desenvolveu um novo uso para tratar plantas. Esta tecnologia resultou em patente da molécula N-acetilcisteína (NAC) – que já era usada na saúde humana.
Após 12 anos de estudo, a descoberta teve sua patente registrada em 2018. “A nossa patente nos deu a segurança pelo desenvolvimento da tecnologia e a confiança para fazer a sua transferência para o setor citrícola”, comentou durante a cerimônia realizada no Chile, em 04 de setembro.
Durante o evento, Alessandra comentou sobre a dificuldade que um cientista encontra – de modo geral – no processo de registro de patente. Atualmente, o IAC conta com o Núcleo de Inovação Tecnológica (NIT), que viabiliza esse processo e também parcerias do Instituto. “O pesquisador é treinado para gerar resultado e o produto é consequência disso. É importante ter esse apoio institucional para transformar o resultado científico em linguagem apropriada para solicitação de patente”, afirma.
Esta tecnologia NAC já está presente em produtos comerciais, desenvolvido pela startup Ciacamp, licenciada pelo IAC. “As pessoas que usam o produto voltam a adotá-lo porque estão vendo resultados positivos”, afirma a pesquisadora do IAC, ligado à Diretoria de Pesquisa dos Agronegócios (APTA), da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo.
Além da cientista do IAC, as agraciadas são: Silvana Herrera Leiva, do Chile, designer de produtos e inventora de uma faixa sensorial para a detecção de obstáculos no campo de visão de pessoas com deficiência visual; a bióloga Gladys Antonieta Rojas de Arias, do Paraguai, inventora de compostos derivados do 2,5-dihidroxibenzil para o tratamento da doença de Chagas e da leishmaniose; e María Inés Costa Saravia, do Uruguai, técnica em design gráfico e inventora de uma ferramenta de tricô de crochê manual que se retrai mecanicamente após cada ponto e mantém a tensão constante do fio.
O júri internacional responsável pela seleção é composto por representantes dos escritórios de propriedade intelectual dos países participantes e por especialistas do setor privado na área de inovação. A seleção foi feita com base em critérios como a vigência do direito de propriedade intelectual que protege a invenção e suas contribuições para a inovação, a sociedade e a sustentabilidade.
Na premiação, Alessandra elogiou a iniciativa que homenageia e dá visibilidade a mulheres inovadoras. “A agricultura é por si só é um ambiente muito masculino e já traz esse desafio. No meu caso, atuo na ciência básica, ou seja, não traz um resultado imediato. Trabalho na biotecnologia, dentro de laboratório para algo que vai ser usado no campo”, disse ao explicar sobre a dificuldade de ter seu trabalho compreendido.
Conheça a pesquisa que resultou no prêmio
Após participar do sequenciamento genético da bactéria Xylella fastidiosa, pesquisa de impacto internacional, e entender como essa bactéria causava doença nos citros, a pesquisadora do Instituto Agronômico, instituição pública paulista, decidiu investigar como seria o resultado de uma molécula conhecida na medicina humana — a N-acetilcisteína (NAC) — se fosse aplicada como recurso agrícola e com o grande benefício de ser sustentável ambientalmente.
Com experiência no estudo da interação planta-patógeno e conhecendo a ausência de soluções eficazes e ambientalmente seguras para combater doenças bacterianas, Alessandra liderou o estudo por 12 anos. “Embora já conhecida por seu uso humano, a NAC nunca tinha sido considerada para tratar plantas”, comenta Alessandra.
A composição agrícola à base de NAC é capaz de inibir biofilmes bacterianos em plantas citrícolas. Ainda, por ser uma molécula antioxidante, o composto ainda contribui para reduzir estresses ambientais como a seca e o impacto de metais pesados.
A invenção patenteada levou à criação de uma startup focada em sua aplicação no campo. Essa transferência da tecnologia impacta diretamente a citricultura brasileira, especialmente a paulista, onde os pomares citrícolas respondem por cerca de 80% da produção brasileira de laranjas. O Brasil lidera o mercado global de suco de laranja, com cerca de 70% da produção mundial.
Duplo reconhecimento
Alessandra Alves de Souza, pesquisadora do IAC, também foi eleita membro titular da Academia de Ciências do Estado de São Paulo (ACIESP), na área de Ciência Agrárias, dentre os novos Membros Titulares eleitos em 2025, que passam a integrar de forma permanente o quadro da Instituição.
“É com muita alegria e surpresa que fui eleita membro titular da Academia de Ciências do Estado de São Paulo. Tenho certeza de que será uma excelente oportunidade para fortalecer e elevar o nome da nossa Instituição em outras frentes importantes do nosso estado. Vamos juntos trilhar mais esse caminho”, diz. A cerimônia de diplomação será realizada ainda este ano, em data e local a serem divulgados.
A ACIESP felicita os novos Membros Titulares e ressalta que suas trajetórias acadêmicas e científicas enriquecem a Academia e fortalecem a ciência paulista e brasileira. Os demais eleitos são cientista da UNICAMP, IPEN, UNIFESP e USP – esta reúne a maioria dos eleitos.