Estudo relaciona índice de conexão a produtividade das lavouras de café no país.
Da área total de 1,27 milhão de hectares cultivados com café no Brasil, 69% possuem acesso à conexão 4G ou 5G. É o que aponta um levantamento da ConectarAGRO, associação que acompanha a expansão do acesso à internet no campo, em parceria com a Universidade Federal de Viçosa (UFV).
Renato Coutinho, diretor-administrativo da ConectarAGRO, destaca que o patamar de conexão no café é superior ao de outras culturas, como soja e cana-de-açúcar, mas afirma que os 31% restantes sem conexão limitam o crescimento da cadeia no Brasil. “É positivo, mas não totalmente satisfatório. Há uma limitação para crescer em competitividade internacional e cumprimento de exigências de rastreabilidade”, argumenta.
Minas Gerais, o maior Estado produtor de café do país, tem 886 mil hectares cultivados com grão, dos quais 67,8% têm acesso à internet. Segundo a ConectarAgro, o índice abaixo da média se deve à extensa área, em boa parte composta por relevo montanhoso e formada por pequenas propriedades, especialmente nas regiões das Matas de Minas e no sul do Estado.
Os nove mil hectares do Grupo Sementes Gaúcha, divididos em seis fazendas nos municípios mineiros de Presidente Olegário e Paracatu, são conectados. Nos 517 hectares de café, a responsável pela área de grãos especiais, Karina Seibt, não consegue enxergar mais o negócio sem acesso à internet em cada uma das etapas, da colheita ao beneficiamento.
“Nossas máquinas para o beneficiamento do café são todas automatizadas, o que nos garante precisão. Temos um trabalho com alta tecnologia e o mínimo de riscos possíveis de erros”, afirma Karina Seibt.
Ela destaca também a importância da conectividade para atender as novas exigências do setor. “Nossos cafés especiais têm a rastreabilidade do Cerrado Mineiro. Com um QR Code você vê toda a trajetória do grão, e poucos anos atrás isso não existia”, diz.
Com larga vantagem de território cafeeiro para os outros Estados, Minas Gerais possui os dez municípios com maiores áreas de café no Brasil. E entre eles, existem cenários distintos de produtividade e conexão, que estão diretamente relacionados.
Monte Carmelo, no Cerrado Mineiro, apresenta um índice acima da média, de 81,9% da sua área de 17 mil hectares de café conectada e produtividade média de 42 sacas por hectare. Já Boa Esperança, com os mesmos 17 mil hectares, produz 18 sacas de café por hectare, com 61,8% da sua área com boa conexão.
“Isso evidencia que a conectividade é um componente-chave para o aumento da eficiência e da rentabilidade nas lavouras, especialmente quando aliada a boas práticas agrícolas e acesso a crédito e assistência técnica”, destaca o estudo. A ConectarAgro sugere que a falta de conectividade é um entrave para a adoção de boas práticas agrícolas que influenciam diretamente o ganho de eficiência.
Para Renato Coutinho, Minas Gerais reflete o retrato do Brasil. “Regiões muito avançadas convivendo com áreas que ainda precisam de mais investimento em inclusão digital”, afirma.
O Paraná possui 81,8% dos seus 34 mil hectares de café conectados, segundo o levantamento. O Espírito Santo registra 79,5% dos 168 mil hectares plantados com acesso à internet; e São Paulo apresenta 76,3% dos 119 mil hectares com boa conexão. Os três Estados ocupam o topo da lista em conexão, de acordo com a ConectarAGRO.
Em Torrinha, no interior paulista, o cafeicultor Rafael Gazola afirma que as operações agrícolas dependem 100% de uma boa conexão. “Uma compra de implemento, de insumo, o pagamento de contas… sem internet atrapalha demais, porque precisa sair da propriedade”. Gazola afirma que possui conexão via satélite, que ultimamente tem “andado devagar”.
Seus 80 hectares de café possuem cobertura de internet, mas o produtor almeja dar um passo além. Se por um lado, a lavoura é mecanizada, o maquinário ainda não tem conexão em tempo real para gerar dados para uma central de controle. “A pretensão é ter piloto automático e um alinhamento exato na área de plantio, mas ainda não temos”. No momento, Gazola se limita a utilizar internet para as tarefas administrativas e financeiras.
Outras duas áreas emergentes para o café brasileiro, os Estados da Bahia e Goiás chamam a atenção pelo baixo índice de conexão. Na Bahia, 40,7% da área de 55,8 mil hectares de café são conectados. Segundo o levantamento, o índice é um reflexo da distância entre centros urbanos e áreas produtivas, especialmente em regiões como o Planalto da Conquista e a Chapada Diamantina, onde predominam pequenas propriedades.
A situação de Goiás é peculiar, já que o Estado possui apenas 5 mil hectares de café, sendo 535 hectares com acesso à rede 4G ou 5G, um índice de 10,5%. A avaliação da ConectarAgro e da UFV é que há uma lacuna significativa na inclusão digital na região e uma “incapacidade de adoção de tecnologias modernas” para a cultura que não é tradicional na região (Globo Rural)