Larissa Wachholz destacou ao WW, porém, que chineses também se preocupam com nível de compras do Brasil.
Quando conversa com seus interlocutores na China, Larissa Wachholz ouve que não há interesse por parte dos chineses de voltar a depender da soja dos Estados Unidos como foi no passado.
Até a primeira passagem de Donald Trump pela Casa Branca, os norte-americanos se destacavam como fornecedores da oleaginosa ao país asiático. Desde a primeira guerra comercial deflagrada pelo republicano, a balança virou de ponta cabeça: hoje, os EUA fornecem cerca de 20% da soja consumida pelos chineses; o Brasil, 70%.
Especialista do núcleo de Ásia do Cebri (Centro Brasileiro de Relações Internacionais) e sócia da Vallya Participações, Wachholz relatou ao WW desta segunda-feira (11/8) que os chineses têm para eles que a diversificação de mercado foi fruto de um esforço e que, por tanto, o país “não teria interesse em caminhar para uma nova dependência”.
Wachholz também foi assessora especial do Ministério da Agricultura para assuntos relativos à China.
Ela ressalta que na relação entre os EUA e a China houve uma quebra de confiança em relação a um “produtos tão essencial como a soja” para os chineses.
Em meio a negociações que caminham vagarosamente, Washington e Pequim, até o momento, não estabeleceram nenhuma garantia de que as tarifas aplicadas um contra o outro não vão voltar a subir.
Mais cedo, Trump se manifestou sobre a relação comercial, e exigiu que os chineses quadrupliquem as compras de soja norte-americana. O movimento veio pouco antes de o republicano estender, por mais 90 dias, a pausa tarifária à China.
Questionada se os dois movimentos estão interligados, Wachholz pondera que ainda não há como saber ao certo e que “tudo indica que não tenha sido”. Porém, a especialista em negócios com a China não descarta que a soja esteja sendo utilizada pela Casa Branca como ferramenta política nas tratativas com os chineses.
Ao perder espaço no mercado chinês, o produtor norte-americano se viu em uma situação delicada, agricultores estes que estão baseados em estados tradicionalmente republicanos.
“O presidente Trump tem dito repetidas vezes que as tarifas são resposta a um déficit comercial, que é difícil de resolver, os volumes são muitos grandes. Mas os Estados Unidos têm condições de exportar produtos agrícolas e a China é uma grande demandante”, observa Wachholz.
“Esse é um tipo de produto que de fato tem na China um mercado consumidor e poderia ser usado de forma política para um acordo. E as duas maiores economias do mundo precisam chegar a um acordo para várias cadeias produtivas.”
Se adotada a demanda, prejudicano na história seria o Brasil: os EUA virariam o maior fornecedor à China, apesar de a soja brasileira ser mais competitiva por conta de preço, escala de produção e qualidade.
Porém, Wachholz ressalta que nem a dependência da China da soja brasileira é de interesse dos chineses, destacando políticas públicas que o governo de Xi Jinping tem promovido para reduzir as compras do grão.
“Em uma viagem à China, em junho, ouvi de uma autoridade brasileira que, quando se encontrou com o presidente da Universidade de Agricultura da China, ouviu que a missão a ele dada por Xi Jinping foi de reduzir as compras da China de soja brasileira. Também tem preocupação do lado deles de ter muitos ovos da mesma cesta de fornecimento.” (CNN Brasil)