Pescados: Trabalhadores parados são 3.000 e Fazenda segura linhas de crédito

Presidente da Abispesca afirma que governo pode fazer mais e colocar prioridade para quem é mais frágil.

O presidente da Abipesca (Associação Brasileira das Indústrias de Pescados), Eduardo Lobo, alerta que o setor passa por uma paralisia e que 3.000 trabalhadores estão sem atividade, à espera de ações para atenuar o impacto da sobretaxa de 50% imposta pelos EUA.

Lobo afirmou que o vice-presidente Geraldo Alckmin demonstra boa vontade para destravar medidas de socorro ao setor, mas a Fazenda tem resistido.

“A gente está vendo que o Ministério da Economia [Fazenda], até o momento de hoje, não nos entregou o que a gente precisa, que são as linhas de crédito acessíveis, com custo baixo, que sejam factíveis para o empresário se endividar”, afirmou Lobo ao C-Level Entrevista, videocast semanal da Folha.

Ele disse que o setor precisa de um plano emergencial para sobreviver. “Gostaria de dizer ao governo que o pescado pode não ser importante para os EUA, pode não ter números significativos, mas é importante para o Brasil pela questão social que representa. Tem suas empresas processadoras nos locais onde é o pior IDH do Brasil.”

Como está a situação atual da produção de pescados no Brasil?

A gente teve um pequeno alento porque esperávamos já antecipadamente esse tarifaço. Os pedidos estavam suspensos, e não cancelados, porque o importador não sabia quanto ia pagar efetivamente de taxa e pediu para a gente suspender os embarques.

Houve aí 5, 6 dias para se escoar alguma coisa, mas isso é um grão de areia no oceano.

A gente tinha algo como 1,3 milhão de quilos represados. Uma parte disso, 40%, foi direcionada a outros mercados de maneira pulverizada e uma parte ficou dentro de casa. Hoje, o setor está em estado de paralisação.

O que esperam do governo no curto prazo?

O setor de pescados estava vivendo momentos muito bons. É a proteína mais comercializada do mundo, algo em torno de US$ 180 bilhões. Nos últimos dois anos, muito investimento foi feito na captura e na piscicultura, no cultivo da tilápia. A gente estava almejando no ano de 2025 bater recorde de exportação, chegando perto dos US$ 650 milhões.

O que esperamos do governo é que não pare de negociar, que vá imediatamente em missão para os EUA, seja quem quer que vá: o Ministério da Indústria com o vice-presidente, o ministro da Agricultura, algum enviado especial da Presidência da República…

Não temos uma segunda alternativa, que seria o mercado comum europeu. O governo tem que colocar prioridade para quem é mais frágil e, no caso, é o pescado.

O governo não está colocando o pescado como prioridade. É isso?

Gostaria de dizer ao governo que o pescado pode não ser importante para os EUA, pode não ter números significativos, mas é importante para o Brasil pela questão social que representa. Tem suas empresas processadoras nos locais com pior IDH [Índice de Desenvolvimento Humano] do Brasil. Ele acolhe e compra todo o pescado cultivado pelas famílias.

A gente pede ao governo que coloque o pescado como o primeiro da lista a ser negociado, porque o americano não vai sentar com o Brasil e negociar o pacote todo de uma vez, vai por partes.

O setor já teve resposta do pedido de R$ 900 milhões em crédito subsidiado para socorrer as empresas do que dependem da exportação?

O MDIC [Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio] voltou com a gente pedindo a relação de todas as empresas e o percentual de comprometimento das suas exportações. Isso já foi feito. Pediu o contato de todas as empresas, a gente já deu. Eles contataram as empresas para checar as informações, mas efetivamente até agora o crédito que é emergencial não aconteceu.

Vocês imaginam que venha acoplada uma medida de manutenção de emprego, ou isso não está na mesa?

Isso foi abordado veementemente na última reunião [entre setores afetados e governo]: uma ajuda na manutenção de empregos com auxílio na folha. Acho que o vice-presidente se sensibilizou, outros ministros nem tanto, mas o vice-presidente teve um olhar e acolheu essa ideia e ficou de avaliar.

Contamos com um auxílio à nossa folha de pagamento e com a inclusão de todas as empresas no Reintegra [benefício tributário que estimula as exportações].

São divergências internas no governo que estão travando a finalização desse plano de contingência? Que áreas estão sendo mais resistentes?

Não consigo dizer que áreas são mais resistentes, mas a gente nota que alguns ministros gostariam que o setor privado resolvesse essa situação sem precisar de ajuda alguma do governo, que baixasse preço e vendesse sem retorno financeiro algum o produto no mercado interno.

A gente precisa de um médio prazo, seis meses. Mas até esses seis meses, como é que a gente sobrevive? Não sobrevive. A gente precisa de uma ajuda do governo federal, porque afinal de contas não somos nós que estamos na mesa negociando, mas somos nós que estamos pagando a conta.

Quais são os ministros que resistem às medidas de socorro ao setor?

Tudo afunila no caixa. E quem tem o caixa é o Ministério da Economia [Fazenda], que até o momento de hoje, não entregou o que a gente precisa, que são as linhas de créditos com custo baixo, que sejam factíveis para o empresário se endividar.

Não estamos pedindo dinheiro a fundo perdido, doação, [mas sim para] manter os nossos estoques, a cadeia funcionando, porque a razoabilidade vai vir à mesa nos próximos meses.

Qual que é o cenário nesse momento?

Eu diria que já tem comprometido diretamente, imediatamente, uns 3.000 postos, fora as indústrias que eu ainda não sei que já estão começando a dar férias coletivas. É muito grave a situação da piscicultura. Está todo mundo reduzindo o plantel, reduzindo o volume de peixe para se colocar na água em quase 50%. Isso reduz investimento, desaloja a mão de obra.

Integrantes do governo dizem que, no caso do pescado, é mais difícil porque não seria tanto do interesse dos EUA. Falta empenho negocial do governo?

Sinceramente, eu acho que ninguém negociou nada. Tudo até o momento foi uma decisão unilateral do governo americano. Sou completamente contrário ao argumento de quem falou, de quem disse que não tinha importância nem relevância. Não entenderam as colocações ou escutaram de maneira equivocada. Agora, empenho na negociação, eu acho que o governo pode fazer muito mais (Folha)

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