Estratégias da agroindústria para evitar colapso da produção de alimentos

De COP30 no Brasil a gigantes como General Mills, Compass Group, Campbell’s, Kraft Heinz, Starbucks e Danone, como o setor investe em medidas para garantir cadeias produtivas estáveis.

A indústria alimentícia tem muito em jogo, e ainda mais a ganhar, ao adotar práticas que ajudam a estabilizar o clima e apoiar ecossistemas prósperos. E há uma convergência crescente em todo o setor para seguir esse caminho.

Os riscos são claros: a indústria está na linha de frente dos impactos cada vez mais severos de um planeta em aquecimento e do declínio da natureza. Produtores rurais enfrentam ameaças crescentes, de furacões mais intensos que comprometem lavouras no Sudeste dos EUA até secas severas e enchentes repentinas que forçam a redução de rebanhos no Oeste do país.

Mas, para as empresas que impulsionam a inovação e assumem uma posição de liderança no mercado em sustentabilidade, há oportunidades significativas, que vão desde o desenvolvimento de produtos de ponta e aumento de eficiência até o ganho de participação de mercado e oferta de opções mais estáveis e acessíveis para os consumidores.

Como um sinal claro do impulso crescente, grandes empresas estão tomando medidas críticas – individualmente e em conjunto –, firmando parcerias com agricultores e pesquisadores para construir um sistema agrícola mais sustentável e resiliente.

Para alcançar esse objetivo, a indústria alimentícia está desenvolvendo e implementando rapidamente planos de transição climática, que são estratégias empresariais estabelecendo os principais passos e cronogramas necessários para garantir lucratividade de longo prazo e viabilidade das cadeias de suprimento, além de trabalhar de forma setorial para enfrentar desafios comuns.

À medida que mais planos são implementados, quatro áreas de ação críticas que estamos observando no setor e nas quais estamos ajudando empresas a avançar incluem:

Adoção de análises climáticas mais sofisticadas

Empresas do setor de alimentos estão cada vez mais adotando análises de cenários climáticos, uma abordagem para avaliar riscos e também oportunidades de negócios com base na modelagem de diferentes cenários de temperatura. Essas estratégias prospectivas podem ajudar as empresas a determinar que impactos operacionais, na cadeia de suprimentos, no mercado ou regulatórios seus negócios podem enfrentar em um clima mais quente, permitindo melhor gestão de riscos e sucesso no longo prazo.

Após analisar os planos de transição de 50 das maiores empresas alimentícias que operam na América do Norte, por meio da iniciativa Food Emissions 50, a Ceres constatou que 16 empresas haviam publicado análises de cenários climáticos até março deste ano, contra sete em 2024.

Um exemplo é o Compass Group, multinacional de serviços de alimentação que serve refeições em faculdades, hospitais, estádios e outros locais nos EUA. A análise de cenários climáticos do Compass Group modela como as mudanças climáticas criam riscos decorrentes de desastres climáticos e ameaças crônicas, como aumento do nível do mar ou secas, para suas operações e cadeia de suprimentos.

A avaliação da empresa mostrou que o estresse hídrico crônico, especialmente em fazendas de gado e laticínios nos EUA e na Austrália, pode causar repercussões financeiras significativas, como o aumento de custos anuais entre 2,5% e 5,0% até 2050. Esse é o tipo de insight que sustenta a estratégia da empresa de ampliar a oferta de alimentos alternativos, como produtos proteicos sem carne, que evitam esse tipo de risco.

Redução de emissões potentes da agricultura

Mais empresas alimentícias estão começando a aproveitar as vantagens de limitar dois tipos de poluentes agrícolas comuns em suas cadeias de suprimentos: o metano e o óxido nitroso. Reduzir esses gases de efeito estufa potentes oferece às empresas uma maneira eficaz de mitigar riscos de forma rápida e econômica, além de fortalecer a resiliência do setor a longo prazo e atender às exigências regulatórias aplicáveis a empresas globais.

Um exemplo notável é a Campbell’s, que já superou sua meta de reduzir o óxido nitroso em 20%. Em 2023, a fabricante de sopas enlatadas e lanches reduziu esse gás em 25% ao trabalhar com agricultores da sua cadeia de suprimentos para aplicar fertilizantes nitrogenados de forma mais eficiente em lavouras de tomate e trigo. A medida também resultou em economia de custos para esses produtores.

Quantificação das estratégias de redução

Empresas do setor de alimentos estão cada vez mais atribuindo valores numéricos aos seus planos climáticos e publicando estratégias de redução quantificadas. Essas estratégias detalham todas as abordagens que uma empresa adotará para cortar emissões em suas operações e cadeias de suprimentos, com o objetivo de cumprir metas estabelecidas. Esse planejamento ativo e calculado demonstra que a empresa está bem preparada para a transição do setor, posicionando-se para liderar em resiliência, inovação e geração de valor sustentável.

Em 2024, a General Mills divulgou uma estratégia quantificada em seu Plano de Transição para Ação Climática, listando áreas onde pretende reduzir emissões por categoria e em que prazo. O plano da gigante dos cereais especifica quanto pretende cortar em suas maiores fontes de emissões — grãos e laticínios — por meio de medidas como a eliminação do desmatamento de sua cadeia de suprimentos e a promoção de práticas agrícolas regenerativas, como redução do revolvimento do solo e o uso de culturas de cobertura.

Trabalho conjunto para enfrentar desafios do setor

Embora a ação individual seja essencial, as empresas de alimentos não podem enfrentar sozinhas os enormes desafios que atingem o setor. Há inúmeros caminhos comprovados para acelerar a agricultura resiliente. No entanto, muitas soluções promissoras ainda estão em estágio inicial de desenvolvimento, são caras ou exigem capacitação técnica avançada para os agricultores. É por isso que empresas estão colaborando com outros agentes da cadeia de suprimentos e com o setor como um todo para superar barreiras e apoiar a adoção em larga escala.

Diversas dessas parcerias se concentram em temas urgentes, como a Dairy Methane Action Alliance, uma iniciativa global criada para acelerar ações e metas na redução da poluição por metano nas cadeias de laticínios. Participantes como Kraft Heinz, Starbucks, General Mills e Danone se comprometeram a elaborar planos de transição para reduzir as emissões de metano.

Além dessas iniciativas formais, membros da indústria de alimentos se reunirão com outros atores essenciais, incluindo investidores, formuladores de políticas públicas e organizações de pesquisa, além de eventos globais como a Climate Week de Nova York, em 2025, e a Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP30), no Brasil, ainda este ano. Esses encontros internacionais podem gerar conversas oportunas e inspirar novas ideias para o cultivo de práticas agrícolas resilientes que beneficiem todo o setor (Forbes)

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