Brasil e Estados Unidos só tem um caminho: negociar, negociar, negociar

A alta das tarifas trará inflação lá e riscos de desastre financeiro aqui: ruim para todo mundo

Por Roberto Rodrigues

O grande evento da semana foi a imposição na quarta-feira, pelo Presidente Trump, da tarifa de 50% sobre as exportações brasileiras para os Estados Unidos, tirando-nos da confortável tarifa de 10% estabelecida em abril passado.

Está claro que a atitude do líder americano tem duas motivações, uma de caráter econômico/comercial e outro político.

Quanto ao primeiro (e embora o saldo comercial com os Estados Unidos seja deficitário para o Brasil), os resultados seriam negativos para os dois países, no que diz respeito ao agronegócio. Café, carnes, suco de laranja e produtos de madeira que exportamos para eles ficariam mais caros para o consumidor americano, gerando uma desnecessária inflação. E poderia haver um aumento no excedente desses produtos no mercado interno brasileiro, o que reduziria seus preços, prejudicando os produtores rurais e a agroindústria, tornando proibitiva a atividade em alguns casos.

Portanto, inflação lá e riscos de desastre financeiro aqui: ruim para todo mundo.

Como evitar tal cenário? Só tem um caminho: negociar, negociar, negociar.

A julgar pelo que foi feito por alguns países que lograram reduzir tarifas, como China, Canadá e México, as chances de sucesso na negociação são boas.

Argumentos existem, competência negociadora temos de sobra, de modo que é o que deve ser feito, e logo, uma vez que a nova tarifa entraria em vigor no dia primeiro de agosto. A Frente Parlamentar da Agropecuária se pronunciou a favor da negociação logo após a carta ser divulgada.

Quanto à segunda motivação, a de caráter político, na carta enviada ao governo brasileiro, o presidente Trump questiona as ações dos Poderes Executivo e Judiciário do Brasil quanto ao tratamento dado ao ex-presidente Bolsonaro. Independentemente de haver má vontade ou até “perseguição” contra ele, este é um problema interno do Brasil, e não cabe a nenhum mandatário estrangeiro interferir, por maior que seja seu poder. Temos instituições para isso, e a elas compete o tratamento do tema.

A intempestiva intromissão do presidente americano num tema de soberania nacional pode até mexer com o cenário eleitoral brasileiro.

Houve quem atribuísse a nova tarifa a um pronunciamento do governo brasileiro na reunião do Brics realizada no final da semana passada, sugerindo outra moeda, que não o dólar, para o comércio entre seus membros. Seria uma retaliação do americano.

Mas o que não é aceitável é que esta tarifa destrua produtores brasileiros que não tem nada a ver com qualquer dessas motivações, e cabe aos negociadores mudarem este cenário catastrófico (Roberto Rodrigues é ex-ministro da Agricultura e professor emérito da Fundação Getúlio Vargas; Estadão)

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