Conheça fraudes envolvendo a engorda de bois, venda de grãos e avestruz e fazendas invisíveis que geraram prejuízos bilionários desde a década de 1990 no Brasil.
Por Julia Maciel
Em Rio Verde, 13 produtores rurais caíram em um golpe de venda de grãos.
A agropecuária brasileira cresceu 15,1% em 2023, com um total de R$ 677,6 bilhões, o que ajudou a alavancar o crescimento da economia do país. Esse número não passa batido por pessoas mal intencionadas que desde a década de 1990 aplicam golpes em agricultores e investidores do setor. Segundo apuração do programa de televisão da Rede Globo, Fantástico, neste domingo (8), um corretor de grãos é investigado pela polícia após enganar produtores rurais em Rio Verde, uma das regiões produtoras mais importantes de Goiás. Este, no entanto, não foi o primeiro caso do tipo.
- O falso corretor de grãos
Segundo o Fantástico, o gaúcho Vinicius de Melo, de 40 anos, é procurado pela polícia por ter aplicado golpes em 13 produtores rurais no município que produz cerca de 1,2 milhão de toneladas por ano, principalmente soja e milho. Rio Verde é responsável por 1,2% da produção nacional de grãos.
Mello e outros envolvidos, incluindo sua esposa, Camila Rosa de Melo, são investigados por atuarem como falsos corretores de grãos. No esquema, após receberem as colheitas, os criminosos não pagavam ou pagavam menos que o valor negociado com os produtores, além de não entregarem toda a carga para os clientes. Os produtos agrícolas eram vendidos e os valores transferidos para empresas-fantasmas.
A polícia levantou que de 2021 até este ano, as empresas laranjas fizeram transações suspeitas entre R$ 200 milhões e R$ 1 bilhão. Mas as investigações indicam que o valor do prejuízo possa chegar a R$ 19 bilhões. Para as vítimas, a perda começa em cerca de R$ 30 milhões e pode atingir R$ 400 milhões.
Os investigadores acreditam que esse pode ser considerado o maior golpe já aplicado no agronegócio. Mas não foi apenas isso. No início dos anos 2000, o esquema de pirâmides envolvendo a Fazenda Boi Gordo, Gallus Agropecuária e Avestruz Master foram alguns que chocaram o país.
Anos 2000, a época dos golpes no agro
- Caso Boi Gordo
O golpe do Grupo Fazendas Reunidas Boi Gordo, fundado pelo empresário Paulo Roberto de Andrade, foi um dos maiores esquemas de pirâmide financeira no Brasil, ocorrido no final dos anos 1990 e início dos anos 2000. Criada em 1988, a empresa oferecia Contratos de Investimento Coletivo (CICs) que prometiam lucros de até 42% em 18 meses, provenientes da suposta engorda e venda de gado nelore criado em fazendas nas regiões Sudeste e Centro-Oeste do país.
Na prática, os investidores aplicavam o dinheiro para a compra de arrobas de boi magro e, em seguida, diziam engordar o animal com a garantia de retorno sobre o peso inicial. Os retornos pagos aos investidores mais antigos provinham dos aportes de novos participantes, o que caracteriza um esquema de pirâmide financeira.
No início, a empresa ficou famosa por seu negócio ser considerado rentável e ninguém queria ficar de fora. Propagandas nos intervalos da novela “O Rei do Gado”, da Rede Globo, com o ator Antônio Fagundes, fortaleceram a ideia de segurança e idoneidade da Boi Gordo, que no fim conseguiu atrair cerca de 32 mil investidores.
Em 2001, o esquema começou a falhar, pois a empresa não conseguia mais fazer os pagamentos. Três anos depois, a Fazenda Reunidas Boi Gordo decretou falência, resultando em um prejuízo aproximado de R$ 3,9 bilhões e R$ 6 bilhões para os investidores. Hoje, os valores ajustados pela inflação acumulada de 2004 a 2024, seriam de R$ 9,7 bilhões e R$ 15 bilhões.
- Gallus Agropecuária
Outro golpe que abalou o agronegócio nos anos 1990 foi o do proprietário da Gallus Agropecuária, Gelson Camargo dos Santos. O empresário provocou um rombo de US$ 1 bilhão (R$ 6 bilhões na cotação atual) no mercado do boi gordo na época, equivalente a US$ 3 bilhões (R$ 18 bilhões) em 2024, ajustado pela inflação acumulada, prejudicando milhares de investidores no Brasil.
Gelson captava para si recursos financeiros de cerca de 300 investidores que eram atraídos por publicidade falsa. A empresa dizia ser proprietária de fazendas que não existiam ou que existiam, mas que não eram suas.
A fraude não parou por aí. A Gallus Agropecuária também fazia uma ampla divulgação do investimento no gado, e prometia que poderia levar aos produtores uma rentabilidade líquida, ao final de quatro meses, próxima de 12,8%. A empresa faliu em 1998. Com os golpes, o dono da empresa recebeu aproximadamente R$ 20 milhões de reais. Santos foi condenado em primeira instância a 11 anos de prisão em 2004. A dívida total da Gallus foi avaliada em R$ 12 milhões na época.
- Avestruz Master
Por mais improvável que possa parecer, cerca de 50 mil pessoas – 30 mil somente em Goiás – caíram em um golpe que prometia vender filhotes de avestruz, abatê-los quando fossem adultos e comercializar a carne com alto lucro garantido. O prejuízo para as vítimas foi acima de R$ 1 bilhão em 2005 equivalente a R$ 3 bilhões em 2024.
A Avestruz Master conseguiu atrair muitos clientes com essa campanha, até porque, na época, a empresa possuía cerca de 40 fazendas espalhadas pelo Brasil. No esquema, a companhia vendia e criava as aves, comprava os ovos e garantia a recompra delas por meio de títulos. O retorno prometido era na faixa de 11% ao mês. Ao aplicarem, os investidores recebiam cédulas de crédito rural ou contrato de investimento que simulava a venda dos avestruzes. Na verdade, a empresa captava recursos para renda de juros.
Em 2005, a fraude foi descoberta. O Ministério Público Federal apurou que a empresa tinha irregularidades como emissão de títulos de investimento fraudulentos e venda de aves além do número existente. Após a denúncia, a Avestruz Master encerrou as atividades. Milhares de pessoas ficaram sem receber o dinheiro aplicado (Forbes)