1ª usina de etanol de trigo do País pode produzir até 40 mil litros/dia

No Rio Grande do Sul, projeto de maiores produtores de trigo investe em inovação e busca novos mercados para trigo e arroz.

Uma jovem de 22 anos está à frente de um empreendimento que pode abrir um novo caminho para a produção do trigo. Filha e neta dos maiores produtores de trigo do Brasil, Maria Eduarda Bonotto lidera a primeira biorrefinaria de etanol de trigo do Brasil, instalada em Santiago, no coração do Pampa gaúcho. O projeto já recebeu investimentos de R$ 110 milhões e representa a realização de um sonho de família: agregar valor à produção de grãos.

A estudante de Agronomia é filha de Cássio Bonotto, considerado o maior produtor de trigo do Brasil, e neta de Antonio Vivaldino Bonotto, reconhecido na década de 1970 como o maior triticultor da América Latina. “Nossas raízes sempre foram no campo, da porteira para dentro, e agora estamos expandindo para a indústria. Com isso, vamos gerar valor para o trigo e também para o agro gaúcho. Vamos processar trigo inicialmente, mas o plano é trabalhar também milho, triticale, sorgo e outros grãos”, diz Maria Eduarda.

Com capacidade para processar 30 mil toneladas de trigo por ano, produzindo 12 milhões de litros de etanol, a CB Bioenergia já gera impacto e cria expectativa na produção agrícola do Rio Grande do Sul. A área de abrangência da usina é de 53 mil hectares de soja e 42 mil hectares de trigo espalhados por sete municípios. Inicialmente, o trigo será fornecido pela própria família Bonotto, que atualmente colhe volume cinco vezes superior ao necessário para abastecer a refinaria.

“Nosso projeto é inovador e sustentável, pois vai reutilizar toda a água empregada no processo. Além do etanol, vamos produzir o farelo de trigo, o DDG [Grãos Secos de Destilaria], destinado para ração animal por ter boa proteína. O etanol será transformado em álcool neutro para a indústria de bebidas e cosméticos. O gás carbônico vai ser captado da fermentação para as bebidas gaseificadas e indústrias de soldagem”, explica Maria Eduarda.

Tecnologia nacional

A usina está pronta para iniciar as operações, o que deve ocorrer nos próximos dias. Quando a reportagem visitou a refinaria, no dia 11 de setembro, havia uma intensa movimentação de caminhões descarregando trigo, operários revisando instalações e técnicos fazendo os ajustes finais. Tiago Gorski Lacerda, CEO da CB Bioenergia, conta que a planta começa a operar com apenas 60 funcionários, graças à automação completa. A previsão é de operar em turnos 24 horas por dia.

Ele explica que a eficiência industrial do trigo é semelhante à do milho na produção do etanol. “A vantagem é que utiliza uma cultura de inverno, numa região de clima complicado, podendo absorver o grão de baixa qualidade comercial e de menor valor no mercado.”

Gorski lembra que além do etanol de trigo hidratado para aviação agrícola, considerado um combustível de menor impacto ambiental, o álcool destinado à produção de bebidas será um produto importante para acessar novos mercados. “As melhores vodcas produzidas na Rússia e na Ucrânia utilizam álcool de trigo. É um produto livre de toxinas que causam, por exemplo, os incômodos da ressaca. Nós vamos atrás desses mercados.”

A construção da biorrefinaria representou um grande aporte tecnológico para a indústria nacional: apenas o moinho foi importado, enquanto todos os outros sistemas foram produzidos no Brasil. O conjunto inclui silos para armazenar o grão, moega, triturador, dornas de fermentação e colunas de destilação. O grão chega seco, passa por limpeza, segue para os silos e depois para a moagem. Na sequência, ocorrem as etapas de liquefação e fermentação.

Trigo e arroz

Espera-se que a indústria incentive a produção de trigo, que atualmente não supre todo o consumo nacional. Na última safra, foram colhidos 7,81 milhões de toneladas, frente a um consumo de 12 milhões. O Rio Grande do Sul, maior produtor do País, respondeu por 4,8 milhões de toneladas, segundo a Conab.

O maior estímulo à produção deve beneficiar também a rizicultura, já que a casca de arroz foi escolhida para fornecer calor para as caldeiras e energia elétrica da usina. A biorrefinaria está localizada no centro de uma região de grandes áreas plantadas com arroz – a produção gaúcha representa 67% da nacional, que nesta safra chegou a 12,75 milhões de toneladas. Esse subproduto, em grande quantidade, costuma ser um problema para o rizicultor.

Gorski destaca que a casca de arroz é altamente competitiva em relação a outros materiais de combustão, como a madeira, pois tem grande poder calorífico e custo logístico menor pela proximidade dos arrozais. “Com o frete, a casca de arroz representa 20% do custo que as usinas têm com o cavaco de madeira, que já é o segundo maior custo das operações.”

Ele ressalta que o cereal também tem potencial para ser usado como matéria-prima de etanol. “Estamos em uma grande área sem indústrias no interior do Rio Grande do Sul. O setor espera que outras usinas se instalem, pois há potencial também para o etanol do arroz. Hoje, 27% da gasolina são de etanol que vem de fora, mas temos condições de produzir aqui.” Essa também é a aposta do Instituto Riograndense do Arroz (Irga) para o futuro da rizicultura no Estado. “A queima da palha do arroz para gerar energia é uma inovação no setor. Sabemos que é viável produzir etanol do arroz”, diz Eduardo Bonotto, presidente do Irga.

Arno Lausch, produtor rural da Fazenda Celeiro, próximo a Santiago, cultiva 1,2 mil hectares de arroz por inundação, e vê na agroindústria uma saída para o setor. “É um cereal de alta tecnologia com custo de produção elevado, mas com preço muito baixo. No prato do brasileiro, o arroz representa um consumo diário de R$ 0,33, o que mostra quanto está desvalorizado. Se temos a possibilidade de destinar para a produção de etanol e aproveitar até a casca, é uma porta que se abre.”

Para iniciar as operações, a CB Bioenergia aguarda a liberação de licença pela Fundação Estadual de Proteção Ambiental (Fepam). De acordo com o órgão, atualmente, cinco empreendimentos voltados à produção de etanol a partir de cereais estão com processos de licenciamento no Rio Grande do Sul (Estadão,)

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